A Profundidade da Cozinha: Reflexões Existenciais entre o Micro-ondas e a Panela da Avó
Neste texto, exploramos as percepções reflexivas e existenciais que podem ser extraídas do ato rotineiro de cozinhar no micro-ondas em contraste com a preparação tradicional de uma refeição na panela. Através de metáforas e citações de pensadores renomados como Mário Sérgio Cortella, Claude Lévi-Strauss, Carlos Drummond de Andrade, Gaston Bachelard e Rubem Alves, refletimos sobre a superficialidade e a pressa da vida moderna versus a paciência, dedicação e amor presentes na culinária tradicional. Este artigo convida o leitor a valorizar seus processos de vivencias como a arte de cozinhar, que enriquece nossas vidas e fortalece nossos laços com aqueles que amamos.
ALÉM DO INSTAGRAM
Alessandra Trajano
7/11/20243 min read
A vida moderna muitas vezes nos empurra para a pressa e a superficialidade, como quando optamos por cozinhar uma refeição no micro-ondas. Esse ato rotineiro de buscar rapidez e conveniência pode ser visto como uma metáfora para a nossa existência contemporânea. Ao cozinhar no micro-ondas, antecipamos o tempo, dispensando as atitudes necessárias para se aprender a cozinhar de verdade. O resultado é uma comida que frequentemente fica cozida por fora, mas fria por dentro, refletindo a superficialidade das nossas experiências e relações.
Assim como a comida preparada no micro-ondas, nossas ações e decisões podem parecer completas superficialmente, mas carecem de substância e profundidade. Mário Sérgio Cortella nos lembra que "a vida é feita de escolhas e renúncias, e cada corte que fazemos nos ingredientes da nossa existência molda o nosso ser". Quando escolhemos a rapidez em detrimento da qualidade, estamos renunciando à oportunidade de desenvolver habilidades e de nos conectar profundamente com nossas experiências.
Por outro lado, a comida da avó, preparada com esmero na panela, é um símbolo de paciência, dedicação e amor. O ato de cortar cebolas, que muitas vezes nos faz chorar, representa os desafios e as dificuldades da vida. A força da faca necessária para cortar os ingredientes simboliza a determinação e a resiliência que precisamos para enfrentar esses desafios. Cada lágrima derramada ao cortar cebolas é um testemunho da nossa capacidade de perseverar e transformar a dor em algo belo e significativo.
O calor do fogão, essencial para transformar os ingredientes crus em uma refeição deliciosa, simboliza a paixão e o esforço que colocamos em nossas ações. Os temperos representam a diversidade e a riqueza das experiências que vivenciamos. Claude Lévi-Strauss afirmou que "a culinária é uma linguagem na qual cada sociedade traduz inconscientemente sua estrutura". A combinação de diferentes temperos e técnicas culinárias reflete a complexidade e a riqueza da nossa cultura, mostrando como cada elemento contribui para a harmonia do todo.
Servir uma refeição preparada com carinho é um ato de amor e generosidade. Carlos Drummond de Andrade disse que "o amor se revela nas pequenas coisas, nos gestos simples e cotidianos". O ato de servir uma refeição caseira é uma expressão tangível desse amor, que nutre não apenas o corpo, mas também a alma. Cada prato servido é uma manifestação de cuidado e afeto, um gesto que fortalece os laços familiares e comunitários.
O tempo é um ingrediente crucial na culinária tradicional. Cozinhar lentamente permite que os sabores se desenvolvam e se integrem, resultando em uma refeição mais rica e satisfatória. Gaston Bachelard escreveu que "o tempo é o maior escultor". Na cozinha, o tempo transforma os ingredientes de dentro para fora, criando uma harmonia de sabores e texturas que não pode ser alcançada de outra maneira. A paciência e a dedicação envolvidas no processo de cozinhar refletem a importância de valorizar o tempo e as experiências que ele nos proporciona.
Rubem Alves nos lembra que "cozinhar é um modo de amar os outros". A comida da avó, aquecida e transformada de dentro para fora, é uma expressão desse amor, que nos conecta com nossas raízes e nos nutre de maneira profunda e significativa. Em contraste, a comida do micro-ondas, rápida e superficial, nos lembra da importância de desacelerar e valorizar o processo, de buscar profundidade e substância em nossas ações e relações. Essa reflexão nos convida a valorizar as tradições culinárias e a apreciar o processo de cozinhar como uma arte que enriquece nossas vidas e fortalece nossos laços com aqueles que amamos.