O Amor e o Desejo: Uma Reflexão Profunda sobre a Condição Humana
"O amor não se manifesta no desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma multidão inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (esse desejo diz respeito a uma só mulher)." Através de uma análise detalhada, discutimos como o desejo físico é uma força instintiva e superficial, enquanto o amor verdadeiro é uma conexão emocional profunda e única. Apoiados por pesquisas em psicologia evolutiva e teorias do apego, examinamos como o desejo sexual e o amor romântico se manifestam em nossas vidas. Além disso, incluímos contribuições de renomados autores brasileiros, como Regina Navarro Lins e Flávio Gikovate, que oferecem perspectivas contemporâneas sobre as relações amorosas e a importância da individualidade e da liberdade no amor. Este artigo é uma jornada reflexiva que nos convida a valorizar e cultivar conexões significativas, indo além da superficialidade do desejo físico para encontrar um sentido mais profundo de realização e felicidade no amor verdadeiro.
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Alessandra Trajano
7/14/20244 min read


Milan Kundera, em sua obra "A Insustentável Leveza do Ser", nos presenteia com uma reflexão profunda sobre a natureza do amor e do desejo. Ele afirma: "O amor não se manifesta no desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma multidão inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (esse desejo diz respeito a uma só mulher)." Esta citação me convidou a explorar algumas as camadas mais íntimas da condição humana, diferenciando o desejo físico do amor verdadeiro.
O Desejo e a Superficialidade
O desejo físico é uma força poderosa e universal. Ele é instintivo, primitivo e, muitas vezes, superficial. O desejo de fazer amor pode ser despertado por uma infinidade de pessoas, pois está enraizado em nossa biologia e em nossa necessidade de reprodução e prazer. No entanto, esse tipo de desejo, embora intenso, é efêmero e pode ser facilmente satisfeito e esquecido.
Pesquisas em psicologia evolutiva sugerem que o desejo sexual é uma adaptação biológica para a reprodução (Buss, 1994). No entanto, estudos também indicam que o desejo sexual pode ser influenciado por fatores sociais e culturais, tornando-o uma experiência complexa e multifacetada (Baumeister & Vohs, 2004).
A superficialidade do desejo físico é evidente em nossa cultura contemporânea, onde a busca pelo prazer imediato é frequentemente priorizada. Aplicativos de encontros, redes sociais e a mídia promovem uma visão do amor que é muitas vezes reduzida à atração física e à satisfação instantânea. No entanto, essa visão limitada não captura a profundidade e a complexidade do amor verdadeiro.
Bem, em contraste, o amor verdadeiro é uma força muito mais profunda e complexa. Ele não se manifesta apenas no desejo de fazer amor, mas no desejo de compartilhar a vida, os sonhos e as vulnerabilidades com outra pessoa. O desejo de dormir juntos, mencionado por Kundera, simboliza essa intimidade profunda e essa conexão emocional.
John Bowlby, em sua teoria do apego, sugere que o amor romântico é uma extensão dos laços de apego formados na infância (Bowlby, 1988). Estudos de Hazan e Shaver (1987) confirmam que os estilos de apego influenciam a maneira como os adultos experimentam o amor romântico. O desejo de compartilhar momentos íntimos, como dormir juntos, pode ser visto como uma manifestação de um apego seguro, onde a confiança e a segurança são centrais.
Dormir ao lado de alguém é um ato de vulnerabilidade. É um momento em que estamos desarmados, sem defesas, e confiamos plenamente na presença do outro. Esse desejo de compartilhar o sono representa a confiança, a segurança e o conforto que encontramos em um relacionamento verdadeiro. É um desejo que não pode ser facilmente transferido de uma pessoa para outra, pois está enraizado em uma conexão emocional única.
No contexto brasileiro, autores como Regina Navarro Lins e Flávio Gikovate têm explorado a complexidade das relações amorosas e do desejo. Regina Navarro Lins, em sua obra "A Cama na Varanda", discute como as expectativas sociais e culturais moldam nossas percepções sobre o amor e o desejo, destacando a importância de uma visão mais livre e autêntica das relações amorosas (Lins, 2006).
Flávio Gikovate, em "Uma Nova Visão do Amor", argumenta que o amor verdadeiro é baseado na individualidade e na liberdade, e não na fusão e na dependência emocional. Ele sugere que o amor saudável é aquele em que ambos os parceiros mantêm sua autonomia e crescem juntos, sem perder sua identidade individual (Gikovate, 2011).
A Busca pelo Amor Verdadeiro
A busca pelo amor verdadeiro é uma jornada que exige paciência, autoconhecimento e coragem. É preciso estar disposto a ir além da superficialidade do desejo físico e a explorar as profundezas da intimidade emocional. Isso envolve abrir-se para o outro, compartilhar medos e inseguranças, e construir uma base sólida de confiança e respeito mútuo.
Estudos de Gottman e Silver (1999) sobre casamentos bem-sucedidos mostram que a comunicação aberta, a empatia e a resolução de conflitos são fundamentais para manter um relacionamento saudável e duradouro. Esses elementos são essenciais para cultivar o amor verdadeiro, que vai além da atração física e se baseia em uma conexão emocional profunda.
No mundo moderno, onde a superficialidade e a gratificação instantânea são frequentemente valorizadas, encontrar e cultivar o amor verdadeiro pode ser um desafio. No entanto, é uma busca que vale a pena, pois o amor verdadeiro nos oferece um senso de propósito, pertencimento e realização que o desejo físico jamais poderá proporcionar.
A reflexão de Milan Kundera sobre o amor e o desejo nos lembra da importância de buscar conexões profundas e significativas em nossas vidas. O amor verdadeiro não se manifesta apenas no desejo de fazer amor, mas no desejo de compartilhar momentos íntimos e vulneráveis com outra pessoa. Ao valorizar e cultivar essas conexões, podemos encontrar um sentido mais profundo de realização e felicidade em nossas vidas.
Referências Bibliográficas
Baumeister, R. F., & Vohs, K. D. (2004). Sexual Economics: Sex as Female Resource for Social Exchange in Heterosexual Interactions. Personality and Social Psychology Review, 8(4), 339-363.
Bowlby, J. (1988). A Secure Base: Parent-Child Attachment and Healthy Human Development. Basic Books.
Buss, D. M. (1994). The Evolution of Desire: Strategies of Human Mating. Basic Books.
Gikovate, F. (2011). Uma Nova Visão do Amor. MG Editores.
Gottman, J. M., & Silver, N. (1999). The Seven Principles for Making Marriage Work. Three Rivers Press.
Hazan, C., & Shaver, P. (1987). Romantic Love Conceptualized as an Attachment Process. Journal of Personality and Social Psychology, 52(3), 511-524.
Lins, R. N. (2006). A Cama na Varanda. BestSeller.